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As nossas produções agrícolas

 

O mercado da Graça, em Ponta Delgada, constitui um espaço comercial importante, sobretudo para os produtores agrícolas.

Nestes tempos penosos, aquelas instalações construídas em 1848, na cerca do convento dos frades gracianos, conhecem hoje uma procura intensa, sobretudo ao fim de semana, porque os produtos hortícolas são mais frescos e baratos, se bem que o mesmo não suceda com algumas frutas temporãs.

Está a chegar o tempo dos citrinos. Outrora, o cheiro das laranjas e mandarinas apetecia e, com bolo ou pão de milho, mais as bananas de todo o ano, serviam de conduto ao almoço de crianças e adultos.

Agora, as laranjas e outros frutos são importados, têm bom aspeto, mas não têm o sabor da fruta açoriana. Vêm de continentes distantes e o frio retira-lhes o sabor. São acessíveis, é verdade, mas isso não é tudo.

Os Açores responderam ao ciclo do trigo e do pastel com o ciclo da laranja, já no século 16 e, nos dois seguintes, a produção foi tal que as portas do Reino de Inglaterra abriram-se à exportação açoriana, nomeadamente, da ilha de São Miguel.

Passados dois séculos o património arquitetónico agrícola, nomeadamente: os mirantes de onde se avistava a chegada dos barcos de carga e as paredes altas para proteger as árvores de fruto dos ventos marítimos, aí está a comprovar a importância desse ciclo de prosperidade. Mais tarde, surgiu em alternativa a cultura do ananás, mas essa produção passa por tempos difíceis, apesar dos apoios europeus.

O ciclo do leite ocupa, presentemente, 70% da produção agrícola açoriana, enquanto a superfície destinada às culturas temporárias de cereais para grão e batata diminuiu, significativamente, entre 99 e 2009. Ao contrário, no mesmo período, a área destinada aos hortícolas aumentou em cerca de 50 hectares, número insignificante para satisfazer o consumo resultante do aumento do turismo. Neste aspeto, bem melhor está a Madeira que aumentou a superfície destinada às culturas temporárias de  603 ha para 1155 ha.

Com a deficiente produção de legumes e hortaliças em estufa, não admira que os comerciantes recorram à importação de hortícolas espanhóis, de maçãs e peras do continente, de laranjas afro-americanas, de alhos chineses, etc.

O leite é rei e senhor de todas as reivindicações para apoios à lavoura, e pouco sobra para outras culturas agrícolas de que temos tradição e também qualidade.

Até há poucos anos, eram famosos, pela qualidade do trato e dos frutos, as quintas de Rabo de Peixe, do Livramento e das Capelas, os pomares de Vila Franca e das Furnas, as estufas da Fajã de Baixo. E quem não recorda, na Terceira, os pomares da Terra Chã e de Vale de Linhares e as quintas de São Carlos, onde se instalou a burguesia angrense? Ou a qualidade das laranjas americanas, das cheirosas e doces tangerinas e de outras frutas estivais, produzidas na Ilha do Pico, tão apreciadas noutras ilhas, nomeadamente no Faial e São Miguel?

A falta de escala das produções agrícolas açorianas, não pode impedir o desenvolvimento do setor primário.

A tão falada “Marca Açores”, em vias de implementação, deve exigir produtos típicos de qualidade, o que constitui uma mais-valia no mercado interno e das exportações dos nossos excedentes.

É um dado adquirido que o leite açoriano tem qualidade e, por isso, deve ser orientado para nichos de mercado, onde é melhor remunerado.

Os queijos característicos dos Açores – o queijo flamengo, a meu ver, não integra esta designação – merecem um cuidado especial para preservar  sabores e aromas tradicionais. É o que fazem os produtores do queijo da ilha de São Jorge. Digo isto porque há industriais do ramo que, designando o seu queijo de “tipo ilha”, fabricam um produto híbrido que não se aproxima nem do queijo de São Jorge, nem do saudoso queijo de Água Retorta, infelizmente desaparecido.

O mesmo se diga do queijo do Pico ou de São João. O autêntico é de fabrico caseiro, feito de leite cru e só pelas mulheres que tinham mão para tal. Nem todas, reconheciam as queijeiras.

O designado queijo do Pico, antes de atingir 10 cm de diâmetro, por 3 cm de altura, obrigava a um cuidado trabalho de lavagem e secagem, que o fazia curar. Ao atingir-se essa fase, era guardado em arquibancos, entre o milho, para enxugar e perder a humidade, ganhando dureza e sabor, tornando-o um pitéu muito apreciado. O presente fabrico industrial do queijo do Pico visa a quantidade, mas perde-se o sabor caseiro característico da produção artesanal.

As qualidades que valorizam o fabrico e comercialização dos produtos com a marca Açores, afirmam também a nossa cultura e identidade.

De contrário, não terá futuro nem o Ananás de São Miguel, nem o queijo típico do Pico e de São Jorge, o peixe ou o mel de incenso, e o leite das pastagens verdes açorianas.

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